ARQUITETURA NA FAVELA - ARQUITETURA DA FAVELA

Neste Blog é apresentado o Diário de Campo da pesquisa de doutorado denominada - Chão desenvolvida no período de 2008 a 2012 no curso de Pós Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Esta pesquisa teve como principal ação a produção colaborativa do conhecimento entre universidade (FAUUSP) e população (Comunidades do distrito de Brasilândia). Para isso foram criadas celulas de pesquisa em locais estratégicos para o desenvolvimento destes estudos na região. Os resultados desta pesquisa estão disponíveis em http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16135/tde-30082012-092124/pt-br.php , bem como no site http://espiral.net.br/brasilandia/index.html .

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

MOVIMENTOS SOCIAIS CONTRA AS REMOÇÕES EM SÃO PAULO

Ontem, dia 20 de Setembro movimentos sociais de diversas regiões de São Paulo se reuniram em frente ao Páteo do Colégio no centro de São Paulo para questionarem as remoções para implantação de obras públicas como Rodoanel, Parques Lineares e Estádios para Copa de 2014. Foram cerca de 400 pessoas que relataram o sentimento de insegurança por conta das ameaças que já sofrem por técnicos da prefeitura.A população do Jardim Paraná compareceu ao ato e representou muitos dos que sofrem com a possível implantação do Rodonael Trecho Norte. Veja o vídeo feito pela Morro Produções sobre o ato.
http://www.youtube.com/watch?v=8BwHz136U1Y&feature=channel_video_title

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Expansão Urbana Irregular sobre a Serra da Cantareira, fortalecida pela ausência e presença do Poder Público



Por Cecilia Maria de Morais Machado Angileli e Euler Sandeville Jr.

As cidades brasileiras são caracterizadas por uma histórica desigualdade social, econômica e de padrões de urbanização. As condições de vida são precarizadas, em situações de extrema fragilidade social e risco ambiental. Trata-se de um quadro estrutural do nosso processo de urbanização. Nos anos 80, essa situação já chamava atenção internacional, como quando Henri Lefebvre (1991) observa que as grandes cidades latino-americanas estavam cercadas por um cinturão de pobreza e miséria. Apesar de facilmente percebidas em nossas paisagens, essa condição não tem recebido a devida atenção dos diversos níveis de governo e da sociedade. Pior, em muitos casos é a ação do setor público, através de obras, políticas públicas e ações consorciadas, que agrava as condições de vida dessas parcelas majoritárias da população urbana brasileira. Mas como isso pode ser?
Um exemplo, entre os muitos que estão em curso hoje na Região Metropolitana de São Paulo, é o distrito de Brasilândia, localizado na Zona Norte do município de São Paulo. Em seus 14Km de ocupação urbana, existem  96 favelas, representando um dos principais vetores de expansão urbana irregular na Serra da Cantareira (uma das mais importantes reservas ambientais do município).
A taxa de crescimento populacional do distrito já havia sido bastante significativa no período de 1.991 a 2.000, quando o distrito ganhou cerca de 20.000 novos habitantes. Parte dessa expansão se deu pelo adensamento das áreas já ocupadas, mas parte significativa ocorreu com o desmatamento de 23ha na região denominada Zona de Fronteira, junto à Serra da Cantareira. Deste modo, no decorrer das últimas décadas, parte da  floresta  da Cantareira e dos usos rurais das regiões de fronteira foram substituídos não só por loteamentos irregulares e favelas que expressam essa cidade possível para a maioria de nossa população, mas também por condomínios regulares de alto padrão! No período seguinte, de 2.000 à 2.010, o distrito ganhou cerca de 30.000 novos habitantes, com um desmatamento adicional na Zona de Fronteira de 8ha. Ao mesmo tempo em que houve uma redução do desmatamento, o mesmo foi concentrado entre os anos de 2.005 a 2.010[1].
Em que pese essa redução, estudos de campo realizados pelo Núcleo Estudos da Paisagem do LABCIDADE da FAUUSP - que há oito anos desenvolve pesquisas na região e mantém um centro avançado de pesquisas sediado na Brasilândia - revelam um peculiar processo nas áreas desmatadas neste segundo período. Em muitos casos, a Serra da Cantareira não foi a primeira opção desses moradores, a maioria migrantes. Essa mobilidade, entretanto, tem causas profundas; a população que sofre com esse processo contínuo de expulsão é caracterizada por pessoas que não conseguiram mais pagar aluguel.
E mais, em vários casos, as remoções promovidas por diversas obras públicas fortalecem e agravam esse processo, que encontramos também em outras regiões da cidade. Trata-se tanto de famílias diretamente removidas pela implantação de obras, quanto de famílias expulsas em decorrência da valorização imobiliária que a modernização da estrutura urbana traz a essas áreas. É grave que em nenhuma dessas duas situações, nem mesmo na de remoção direta, essas famílias recebam apoio e orientação adequada e continuada do estado, ainda mais se considerando a situação de risco social em que se encontram. O problema das remoções é tratado como uma questão imediata de engenharia, sem uma política social que perceba as condições e necessidades dessa população e que se considere a “compensação social” como um conceito central nessas obras.
Na Brasilândia, encontramos já vários casos de moradores que foram removidos para a implantação de obras públicas na própria região, e com a indenização compraram um novo lote irregular na Serra. Muitos desses moradores sofrem com situações de risco, falta de infraestrutura, além de estar em uma situação de provisoriedade permanente, já que são constantes os despejos quando as áreas, até então desprezadas pelos próprios proprietários, são inscritas em uma nova dinâmica urbana em função de obras públicas.
Existem moradores que já foram despejados e que aguardam por um novo despejo, devido a processos de reintegração de posse e por estarem novamente em área de risco. Os próprios processos de reintegração de posse multiplicam-se quando se realizam essas obras trazendo valorização imobiliária.
As famílias, por viverem a espera da remoção, não consolidam suas casas, o que não significa que não ampliem os espaços quando possível. O material para boa parte das construções nas áreas mais precárias que temos acompanhado no extremo dessa expansão urbana são recolhidos em áreas próximas, em aterros de resíduos inertes, clandestinos e oficiais. O que encontramos dá uma realidade dura aos trabalhos do artista argentino Antonio Berni, que desde os anos 60 denunciou em seus quadros-colagens a situação da infância em países latino-americanos, através do personagem Juanito Laguna, obrigado a construir o seu mundo com os refugos da sociedade de consumo.
Assim, restos de móveis, pedaços de placas publicitárias, resíduos da construção civil, são matéria prima das construções que visitamos. Com as sobras da cidade formal, ampliam-se as moradias em áreas de risco. Poucas casas são de alvenaria, mesmo porque, segundo os moradores, a prefeitura recolhe os materiais de construção: pedra, areia e cimento.
No relato de um morador da favela apropriadamente chamada de Ordem e Progresso, localizada na pré-Serra da Cantareira na Brasilândia é possível entender uma das faces do processo que alertamos aqui:
Eu morava no Jardim Peri, fui removido de lá e recebi R$5.000,00 e eles me falaram que aquilo não era uma indenização era um beneficio que depois eu iria ganhar uma moradia. Então me retirei de lá gastei com minha família e meus filhos e vim para cá, o que me sobrou foram R$2.500,00 e cheguei aqui e comprei um terreninho de R$500,00, fiz um barraquinho e entrei. Minha casa no Peri era de bloco, dois cômodos azulejado. Hoje eu moro em um barraco eu minha esposa e um filho de nove anos. Esse não é meu primeiro barraco aqui. O meu primeiro barraco aqui pegou fogo, queimou tudo as minhas coisas e não fui chamado para ser indenizado. (...) Agora recebi um papel dizendo que serei removido novamente, estou  aguardando para ser removido daqui. Se pegar R$5000,00 de novo o que nós vamos fazer, vamos para um terreno da prefeitura de novo e fazer um barraco novamente?  
Em outro caso - e eles se repetem - um morador relatou que esperava a indenização para poder pagar suas dívidas, e teria então que mudar-se com a família para outro barraco, onde fosse possível na região.
Outros aspectos ainda precisam ser considerados nessas intervenções do poder público, como a baixa qualidade de projeto ou com a qualidade ambiental resultante. O que certamente não contribui para a autoestima dos moradores, nem para a qualidade de vida, nem para uma presença mais responsável do setor público no fazer a cidade, muitas vezes delegando decisões vitais para empresas que têm em vista apenas o contrato de obras específico. 
Mais uma vez, vários exemplos são possíveis. Um deles foi a substituição de uma área rica em beleza natural por um piscinão construído em 1999 para conter as cheias do Córrego Bananal e que hoje se tornou um grande lixão à céu aberto, que também recebe irregularmente resíduos que são lançados por caminhões. Essa prática teve continuidade com a implantação de escolas, posto de saúde e um telecentro em áreas non-aedificandi de córregos no distrito pelo próprio poder público, equipamentos que obviamente agora sofrem com as cheias dos córregos da região. Uma das escolas implantadas junto ao córrego Bananal já foi desativada, pois nos períodos de chuva as crianças ficavam ilhadas em situação de risco. Um Centro de Educação Unificado também foi implantado na Serra, mais uma decisão pública que negligenciou a aptidão física deste espaço. Além de implantar uma nova escola em uma área de risco, a implantação desta grande obra estimulou novas ocupações nas áreas lindeiras de mata.
Entre estas obras, deve-se destaque à implantação do Parque Linear do Córrego Canivete. Para a implantação do projeto 547 famílias foram removidas. Em uma parceria com a CDHU, 70 famílias foram realocadas em conjuntos habitacionais de Cidade Tiradentes e 120 para conjuntos habitacionais do Sítio Jaraguá. As 357 famílias restantes, receberam uma verba de apoio de R$5.000,00; poucas famílias receberam o auxílio para compra de imóvel que seria de R$8.000,00, de resto insuficiente senão para a construção de novo barraco em área precarizada. Com esse recurso, muitos moradores voltaram a ocupar áreas de fragilidade ambiental no distrito. Essas pessoas estão, ainda quando incluídas nas estatísticas, invisíveis ao poder público e à sociedade, quando as condições extremamente frágeis de escolaridade, trabalho e saúde de famílias inteiras não são enfrentadas com programas minimamente adequados.
Nos próximos anos, a possível implantação do Trecho Norte do Rodoanel Mário Covas, deve continuar a contribuir para a expansão urbana sobre a Serra. Só no distrito de Brasilândia serão mais de 800 edificações atingidas. As edificações irregulares devem ser atendidas por indenizações ou apartamentos do CDHU segundo o Programa de Remoção e Reassentamento apresentado no Estudo de Impacto Ambiental. Essas indenizações estarão baseadas  no valor gasto pelo morador para a construção da casa, porém, como muitas casas são barracos de madeira, as avaliações e indenizações podem ser mínimas e não bastam para a compra de um imóvel em situação regular ou fora de áreas ambientalmente frágeis ou de risco. Além disso, as indenizações são por edificação e não por família, sendo o impacto da obra nestas comunidades em que são comuns as situações de coabitação, muito maior do que o previsto no Estudo de Impacto Ambiental.
Um complexo de fatores conjugados permite supor uma continuidade da expansão sobre a Serra da Cantareira. Mesmo assim, o Trecho Norte do Rodoanel é apresentado como um instrumento urbano para conter o espraiamento da mancha urbana irregular sobre a Serra da Cantareira. A argumentação dificulta perceber a dinâmica urbana e as graves implicações sociais em curso.
Não se trata de um caso isolado, e nos próximos anos tenderá a se agravar com as diversas obras já planejadas, sem a devida atenção da sociedade para um problema já antigo e que se perpetua. O poder público com sua presença ou sua ausência, tem se mostrado em diferentes períodos como um agente importante na produção da expansão urbana irregular no distrito da Brasilândia sobre a Serra da Cantareira. Não que o poder público seja a causa única destas situações, mais suas ações conjugam-se com a dos sujeitos e agentes sociais de natureza privada, mostrando a falta de percepção e controle social sobre as transformações e construções dessa malha urbana.



ESQUINA DA MEMÓRIA - UMA AÇÃO COLABORATIVA ENTRE UNIVERSIDADE E POPULAÇÃO

No dia 10 de Setembro foi aberto um espaço de produção colaborativa de conhecimento sobre a memória local. Este espaço fica na Vila Serralheiro, uma das vilas mais antigas do Distrito de Brasilândia. Compareceram representantes da comunidade e da Universidade de São Paulo. Esse espaço também disponibiliza para a população um acervo de fotos antigas colhidas em instituições locais nos últimos 8 anos bem como com moradores. Também faz parte desse acervo, pesquisas realizadas no distrito e uma biblioteca comunitária. Até dezembro deste ano, todo este acervo deve estar disponível na internet para consulta da população, bem como os quatro documentários realizados pelo Projeto Chão em parceira do Espaço Cultural do Morro, que é um dos parceiros da Esquina da Memória e irá realizar uma série de atividades culturais no espaço.
A beleza da abertura deste simples espaço foi marcada pela solidariedade de muitos moradores que contribuiram com todos os estudos realizados, bem como pelos grafites do Bruno que foram um espetáculo à parte na tarde do dia 10.

BID VEIO ANALISAR DENÚNCIAS CONTRA PROJETO DO RODOANEL TRECHO NORTE

No último domingo, dia 11 de Setembro, uma comissão de investigação do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento foi até a comunidade Itatinga ( Zona Norte de SP ), para averiguar as denúncias feitas ao Banco por moradores e reforçadas com o relatório de impacto ambiental alternativo foi produzido por ambientalistas.

ATO CONTRA REMOÇÕES E DESPEJOS



O projeto Chão apoia o Ato contra os despejos e remoções  organizado por diversos movimentos populares de São Paulo. Este é um importante movimento, do qual faremos parte junto com a população do Jardim Paraná e de Taipas no dia 20 de Setembro,às 9:00hs Pateo do Colégio - centro de SP.
APOIO E ORGANIZAÇÃO:  UMM, MDF, CDHS, CMP,Comitê Popular da Copa, Comitê Copa Pra Quem, Movimento Nossa Itaquera.

DISCUTIR O IMPACTO DAS REMOÇÕES POR OBRAS PÚBLICAS EM TODA A CIDADE E BUSCAR AÇÕES CONTRA ESSE TRAÇADO DO RODOANEL


O projeto Chão em parceira com lideranças do Jardim Paraná, organizaram uma reunião para informar a população sobre a etapa atual do projeto do Rodoanel, e quais medidas seriam necessárias para garantir o direito à moradia da população atingida. Para isso, convidamos algumas pessoas que são referência na comunidade e na cidade nesta luta. Estiveram presentes Dom Milton, Padre Antonio Florentino ( Comunidade Católica da Brasilândia ), Renata ( Escritório Modelo da PUC), Benedito ( União do Movimento de Moradia de São Paulo ), Maria Cristina Grecco e Carlos ( Coordenadora da Comissão do Meio Ambiente da OAB ), Guilherme e Hugo ( Assembleia Popular ) e Dr. Getúlio ( ADM). A população tirou muitas dúvidas sobre o projeto e decidiram entrar com uma representação pública junto a OAB, questionando o convênio entre DERSA e CDHU, qual realmente a sua validade. Para conseguir essa mobilização da população, contamos com a colaboração da Rádio Cantareira que divulgou em sua programação, bem como dos jornalistas da Assembleia Popular ( Elisa e Guilherme ), que fizeram gravações informativas para a Rádio Poste no Jardim Paraná bem como panfletos informativos.

ORGANIZAÇÃO POPULAR PARA DISCUTIR OS IMPACTOS DO RODOANEL NO DISTRITO


Em Agosto, um grupo de lideranças locais do Jardim Paraná e Vista Alegre,  juntamente com o Projeto Chão, Comunidade Católica São Pedro e a Associação em Defesa da Moradia, avaliaram as últimas ações do DERSA e dos grupos políticos. E organizaram uma série de ações para infomar a população sobre os impactos da obra e seus direitos em relação à moradia. Informar cada vez mais a população seria uma forma de fotalece-los , ainda mais nesse contexto de um projeto que está sendo imposto.

MEMÓRIA DAS MULHERES DA RUA VIRAJUBA


Em Julho, iniciamos um trabalho de memória do distrito com alguns jornalistas da organização da Assembléia Popular. A intenção  é gravar uma série de programas de rádio sobre a memória local. A primeira gravação para Rádio Cantareira, foi feita com moradoras de Rua Virajuba e falaram da luta cotidiana de ser moradora da Brasilândia. As entrevistas foram feitas por Mitiko, e gravadas por José Carlos, sendo os dois moradores locais e pesquisadores do Projeto Chão e do Núcleo de Estudos da Paisagem da Brasilândia. Iniciando uma nova etapa de pesquisa na área de memória, já que é realizada efetivamente em colaboração com moradores/pesquisadores.

NARRADORES DO JARDIM PARANÁ


No mês de Julho, o Projeto Chão realizou com as crianças do Jardim Paraná, uma série de estudos sobre percepção da paisagem e suas possíveis transformações. As crianças discutiram as mudanças na paisagem com a possível implantação do Rodoanel Trecho Norte, fizeram oficinas de fotografia retratando a paisagem atual, filmaram moradores em atividades cotidianas e colheram memórias de moradores. A intenção foi produzir um documentário onde será retratado o olhar destas crianças sobre a trajetória de luta da população na produção desse território.