ARQUITETURA NA FAVELA - ARQUITETURA DA FAVELA

Neste Blog é apresentado o Diário de Campo da pesquisa de doutorado denominada - Chão desenvolvida no período de 2008 a 2012 no curso de Pós Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Esta pesquisa teve como principal ação a produção colaborativa do conhecimento entre universidade (FAUUSP) e população (Comunidades do distrito de Brasilândia). Para isso foram criadas celulas de pesquisa em locais estratégicos para o desenvolvimento destes estudos na região. Os resultados desta pesquisa estão disponíveis em http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16135/tde-30082012-092124/pt-br.php , bem como no site http://espiral.net.br/brasilandia/index.html .

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

NOVA AUDIÊNCIA PÚBLICA DO RODOANEL - Em Taipas

A população de Taipas, Brasilândia, Jardim Corisco solicitaram uma nova audiência. Com base nestas solicitações populares, a CÂMARA CHAMA UMA NOVA AUDIÊNCIA PÚBLICA PARA A REGIÃO DE TAIPAS. De acordo com o site ZN na Linha, o vereador Eliseu Gabriel, da comissão de Administração Pública da Câmara Municipal, convocou uma audiência pública para discutir o traçado do Rodoanel trecho Norte. Será no dia 25/02 (6ª-f), ás 9h, na Associação Amigos de Bairros Unidos de Taipas, na av. Dep. Cantídio Sampaio 6530, Taipas, Jaraguá.
Essa região de Taipas e Brasilândia, no pé da Serra da Cantareira, será enormemente afetada por essa obra. Quem não pôde comparecer na audiência pública de São Paulo, realizada no bairro da Liberdade, a quase 20 km de distância, vai poder participar agora dessa audiência que não está sendo chamada pelo empreendedor (Dersa), mas por um vereador da cidade.

Morre um grande idealizador....Élcio, morador que acreditava na memória como fortalecimento social

Este blog é um diário de campo da pesquisa Chão. A intenção é apresentar em resumos o que está sendo discutido, e realizado junto com a população...os ganhos e as perdas...o simplesmente para relatar o que se passa.
O tema "Memoria" que é um dos mais desenvolvidos pelo projeto e que tem início no mestrado fica sem um dos seus principais colaboradores, o morador Élcio. O projeto de memória é um dos temas centrais deste projeto, como pode ser visto no site chao.net.br. Élcio, foi um grande colaborador dentro deste tema. Em um encontro na Associação Cantareira no final do ano passado, organizamos uma série de  estudos colaborativos, ele apresentou novas possibilidades de levantamentos acrescentando aos estudos que eu já realizava sobre expansão urbana no distrito (associando história oficial e oral), temas como a evolução da moradia no distrito, a história dos movimentos sociais locais e da criminalidade. Infelizmente, Élcio que estava internado no último mês faleceu com complicações de problemas pulmores. Os estudos serão concluídos e publicados para acesso de todos. A seguir algumas fotos dos nossos percursos pelo distrito. Obrigada Élcio....por novos olhares sobre a paisagem.




COMUNIDADE AGUARDA RESOLUÇÕES DO CONSEMA

Em conversa com alguns moradores da comunidade do Jardim Paraná(comunidade que terá o maior número de remoções caso seja aprovado o trecho Norte do Rodoanel), eles disseram que estão sem informações sobre as etapas para a aprovação ou não do projeto. A população está preocupada, e não vê com bons olhos a chegada de novos atores para discutir o projeto para eles "agora é tarde". De acordo com relatos de moradores, pessoas de organizações não identificadas sondam os moradores para fazer cadastro das famílias que podem ser removidas. De acordo com o CID (Centro de Informação da DERSA), não existem empresas contratadas para fazer o cadastro, já que até a aprovação do CONSEMA não existe para eles ainda projeto definitivo. Isto porque o CONSEMA esta avaliando os pareceres de diversas instituições como IBAMA, Casa da Biosfera entre outros, bem como documentos entregues pela população e organizações diversas nas audiências públicas. Assim, de acordo com o CID não existe prazo para se conseguir a Licença Prévia, isto porque para o projeto ser aprovado terão uma série de condicionantes a serem revistas na proposta, inclusive possíveis desvios. Após essa revisão, e talvez aprovação é que eles terão o Decreto de Utilidade Pública o que permitirá cadastrar quem será removido ou não, bem como será lançado o edital para construção da obra.

A comunidade na universidade... O documentário Familias Negras na Brasilândia pode se transformar em pesquisa de pós-graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo USP

O documentário desenvolvido por José Carlos, morador do distrito de Brasilândia denominada "Familias Negras da Brasilândia", pode se transformar em pesquisa de mestrado da FAU USP. Pautada pela história oral, a iniciativa tem grande valor para a acadêmia bem como para a população. José Carlos, estrutura agora uma nova pesquisa dentro deste tema e já participa de reuniões do grupo de pesquisa do Núcleo de Estudos da Paisagem do Laboratório da Cidade da FAU USP.

Novos atores discutem o projeto do Rodoanel _ Dia 12 de Fevereiro de 2011

Este ano o tema da Campanha da Fraternidade é "Fraternidade e a Vida no Planeta". Essa abordagem ambiental foi feita por lideranças religiosas da Igreja Católica na região, que deram ênfase à questões de aquecimento global. Pessoas simples, prestavam atenção a estes temas que são colocados pela mídia como um problema da humanidade. Porém, agora com a igreja  este discurso tem um outro valor, o de "compromisso", que é questionado por alguns moradores presentes que disseram que alguns temas são lançados pela campanha e após três meses são esquecidos pela comunidade. No final do encontro representantes da igreja manifestaram que estão organizando uma mesa redonda sobre o Rodoanel Trecho Norte, o que é importante porém como já estamos em uma fase de avaliação dos pareceres pelo CONSEMA, esta manifestação de "apoio" não tem a mesma dimensão se estivesse sido feita antes das audiências públicas. Esta reunião também teve um grande valor político, com a presença de lideranças religiosas e pessoas ligadas à partidos políticos. É preciso dizer que a Igreja Católica sempre teve papel importante nas lutas da população do distrito de Brasilândia, e muitos lideres religiosos são referências para a população.Não só a igreja se manifesta agora sobre o projeto. Diversos políticos estão também estão assumindo esta postura.


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O RODOANEL NA BRASILÂNDIA ... Janeiro 2011

O Rodoanel Mário Covas (SP-021) é uma rodovia classe 0 de contorno da Região Metropolitana de São Paulo, destinada a interligar as rodovias de acesso a RMSP. A polêmica obra que vem sendo implantada por trechos, agora pode ser concluída a partir da aprovação do traçado do Trecho Norte.

Este projeto foi alvo dos ambientalistas em 1999 por gerar grandes impactos em áreas de preservação ambiental. Na época mesmo sendo idealizado por meio de túneis e viadutos o projeto levaria perigo aos reservatórios que abastecem parcialmente a capital paulista. Este trecho que foi o primeiro a ser estudado e pode ser o último a ser implantado, voltou a ser discutido em 2009, quando a DERSA anunciou que o traçado do Trecho Norte do Rodoanel não passaria por dentro da Serra da Cantareira e sim à beira da Reserva Florestal, mais próximo da área urbana.

A empresa responsável pelo Estudo de Impacto Ambiental JGP Consultoria Ambiental, avaliou a possibilidade de implantação do trecho a partir de três traçados: um ao Norte da Serra da Cantareira, um na área central da Serra e outro ao Sul.

O traçado recomendado foi ao Sul da Cantareira por ser considerado de menor impacto ambiental, com menor movimentação de terra e área desmatada. O mesmo terá 42,8 Km de extensão, sobre uma área que também é frágil, já que se trata de uma zona de transição, entre áreas urbanas e áreas de importância ambiental. Regiões que já sofrem com a expansão urbana.

O traçado recomendado percorre o território de três municípios: São Paulo, Guarulhos e Arujá, sendo necessário para sua implantação a remoção de cerca de 2.800 edificações, sendo estas caracterizadas por moradias irregulares, regulares, comércios e equipamentos (RIMA, 2010).

Agora o projeto está em fase e obtenção das licenças ambientais. A obra que custará cerca de R$5 bilhões, deve ter início em 2011 com previsão para conclusão em 2014, e terá grande impacto ambiental e social principalmente no distrito de Brasilândia. Isto porque, este novo traçado terá uma ligação entre o Rodoanel e a Marginal Tietê que passará pelo Distrito de Brasilândia, pela Av. Inajar de Souza. Além disso, seu traçado corta alguns loteamentos clandestinos e em processo de regularização, favelas da região, loteamentos regulares, além das poucas áreas verdes que resistem a essas ocupações.

Com base no EIA, os bairros que sofrerão impacto no distrito de Brasilândia são: Jardim Damasceno-Chiqueirão, Jardim Paraná, Vila Nova Esperança, Piscinão Bananal e Vila Dionísia. O distrito de Brasilândia terá o maior número de remoções deste trecho da obra. A estimativa de remoções de moradias irregulares é de 542 e moradias regulares 40; comércios 63, equipamentos 3, e edificações de uso Rural 11, um total de 657 edificações. Esse número ainda pode aumentar para 836 remoções já que 179 moradias estão localizadas sobre o futuro Tunel 2 do Rodoanel no Jardim Paraná. Estas moradias terão suas remoções confirmadas somente com o detalhamento do projeto de engenharia.

É preciso reforçar que além deste impacto direto, O Rodoanel nos trechos já implantados (Sul e Oeste ) teve papel catalisador de processos de expulsão de população de baixa renda para áreas mais distantes e sem infraestrutura com a valorização imobiliária da região, ou seja, o impacto não é somente sobre as edificações atingidas.

Esses impactos referentes ao meio antrópico são apresentados no EIA
[1] a partir de três escalas de análise: Área de Influência Indireta(AII), na Área de Influência Direta(AID) e Área Diretamente Afetada(ADA).

A macro escala AII, a análise apresentada se ateve as questões estruturais de formação do tecido da metrópole. Foi dado ênfase a problemática de expansão urbana irregular e seus impactos sobre áreas de fragilidade ambiental. Apresenta-se de forma breve os riscos da expansão urbana, para a fronteira sul da Serra da Cantareira em toda sua extensão por meio de eixos de penetração de favelas e loteamentos irregulares. que colocam sobre ameaça o território protegido. Nessas análises foram considerados estudos de expansão desordenada no período de 1991 à 2000. Como potencialidades, foram apresentadas regiões com transporte coletivo adequado. Sendo apresentados exemplos de qualidade ambiental diretamente relacionada a ampliação das opções de transporte coletivo de alta capacidade como metrô, trens e corredores de ônibus, de forma a evitar a geração de viagens por automóveis e reduzir os riscos de poluição do ar. Foram apontadas necessidades de ampliação das áreas verdes e da vegetação intra-urbana de forma a reduzir o agravamento climático, buscando segundo o estudo “’um modelo de urbanização planejado e sustentável”.

Nesta escala foram apontadas também diretrizes de urbanização sustentável, como a criação/potencialização de centros regionais que auxiliem o equilíbrio entre atividades residenciais e não residenciais visando reduzir os deslocamentos casa-trabalho e os gastos com viagens a grandes distâncias no interior da metrópole; a otimização e aproveitamento de áreas urbanas subutilizadas, que são dotadas de boa infraestrutura e apresentam melhores condições físicas para a urbanização; ampliação do atendimento a demanda por Habitação de Interesse Social (HIS) e Habitações de Mercado Popular (HMP) de forma a substituir e reurbanizar gradualmente as favelas e moradias precárias como forma de controlar o espraiamento urbano.

COMENTÁRIOS ACERCA DESTA ESCALA: Acredito que os estudos feitos na macro escala induzem diretamente a um diagnóstico equivocado da escolha do traçado e da importância do projeto, ao dar ênfase como problema à ser solucionado a questão da expansão urbana desordenada, e como áreas de qualidade ambiental regiões com infra-estrutura viária e de transporte. Neste contexto, o projeto é apresentado como “elemento de contenção do espraiamento irregular urbano” de grande potencial por estar também associado a uma política habitacional com CDHU e COHAB. Além disso, nos estudos de evolução urbana. são abordadas somente questões estruturais, o fenômeno especifico sobre a Serra da Cantareira é colocado de maneira superficial. Não são apresentados por exemplo os impactos de intervenções públicas na última década na região, ou mesmo quais são os principais agentes indutores do crescimento desordenado. Apresentam a expansão urbana irregular como ausência do poder público não também como fruto de sua presença, um problema de análise que mostra o desconhecimento da realidade.



Na escala intermediária da AID, as análises pautaram-se por estudos de zoneamento, potencial de adensamento e verticalização. Foi apresentado o estoque de terras junto à áreas de impacto do projeto, bem como o potencial de transformação urbana destas áreas. As ocupações irregulares, foram apresentadas como áreas potenciais, inclusive para serem ocupadas por industrias por estarem próximas ao Rodoanel. Recebe novamente destaque os projetos de transporte coletivo para a região como propostas que referem-se ao melhoramento do sistema de terminais e corredores de ônibus. Nesta escala é apresentada de forma muito breve os tipos de ocupações no interior da AID e o perfil sócio-demográfico da AID. além de uma breve também caracterização da Rede Viária Geral ao sul da Cantareira.

COMENTÁRIOS ACERCA DESTA ESCALA: Nesta escala intermediária AID, faltam estudos de expansão urbana, com dados de densidade demográfica que apresentariam questões mais particulares da paisagem. São apresentados dados demográficos de forma isolada, sendo poucas as analises relacionadas entre subprefeituras e municípios. A Subprefeitura de Pirituba, por exemplo, teve o maior crescimento populacional segundo Contagem Populacional 2008 IBGE principalmente no distrito de Jaraguá e não são citadas essas informações que poderiam indicar problemas na criação de mais um vetor de adensamento. Não foram feitas também projeções estatísticas do crescimento populacional nas regiões atingidas, mesmo apontando este impacto no Volume VI. Quanto aos assentamentos subnormais, estes são apresentados novamente como “área de potencial de adensamento”, para uso industrial. Porém, por não estarem na área diretamente afetada, essas remoções indiretas não são quantificadas, ou seja, não existem programas previstos para atender esta população.

Além de repetir a falha da análise feita na escala anterior de não identificar os processos e agentes que deram origem à essas ocupações irregulares, voltam a dar ênfase à estudos de zoneamento e identificação de áreas com potencialidade para ser de estoque de terras. Acaba neste contexto, direcionando o diagnóstico quanto à necessidade de grandes transformações urbanas, no qual o Rodoanel será o grande elemento indutor destas potenciais transformações.

Acredito que mesmo com falhas, este diagnóstico antrópico aponta o risco de se implantar o traçado ao Sul da Cantareira, já que nestas áreas estão localizadas grandes vetores de expansão urbana. Além disso o número total de população afetada é muito menor no traçado ao Norte. Porém, não é o traçado indicado para ser implantado, principalmente porque não é associado o impacto social ao ambiental, um erro já que o processo de valorização imobiliária decorrente da implantação da obra, poderá induzir como em outros trechos a expansão irregular sobre a região envoltória da implantação, aqui a Serra da Cantareira. Principalmente, por não serem previstos instrumentos urbanos para controle do uso do solo urbano nas regiões atingidas. No Distrito de Brasilândia por exemplo, as Avenidas Dep. Cantídio Sampaio e Ibiaiaras, terão que ser duplicadas, já que seriam os principais acessos até a Av. Inajar de Souza. Hoje estas avenidas já sofrem com a saturação de veículos. A tipologia habitacional destes eixos viários é de casas autoconstruídas localizadas em favelas e loteamentos irregulares.

A micro escala, a ADA, são apresentadas as características de uso e ocupação do solo e suas interferências em redes de infraestrutura. Destaca-se, que a área diretamente afetada irá atingir cerca de 14,7 hectares de ocupações subnormais, o que irá demandar trabalhos sociais de apoio à realocação de população em situação de alta vulnerabilidade, aproximadamente um total de 1300 remoções irregulares.

COMENTÁRIOS ACERCA DESTA ESCALA: Nesta escala, faltam estudos dos processos locais de expansão urbana, estudos essenciais para a definição do traçado. Áreas consideradas irregulares hoje, estão em processo de regularização, e altamente adensadas diferente do diagnóstico apresentado no EIA. Assim o número de famílias removidas considerando os aspectos de coabitação podem ser muito maiores do que os previstos.



0s principais impactos sobre o meio antrópico apresentados no EIA são:

• Interrupção temporária de tráfego

• Aumento na circulação de veículos pesados na malha viária local durante a Construção

• Impactos nos níveis de carregamento do sistema viário da RMSP

• Alterações nos volumes de tráfego dos demais trechos do Rodoanel

• Melhoria da acessibilidade entre rodovias radiais da RMSP

• Benefícios socioeconômicos devidos à redução dos tempos de viagem

• Alterações no padrão de segurança do tráfego intraurbano e redução de acidentes

• Melhoria no grau de confiabilidade dos usuários no sistema viário metropolitano

• Redução dos custos de manutenção da malha viária intraurbana da RMSP

• Favorecimento da intermodalidade no transporte de cargas

• Interferências com fluxos transversais de pedestres

• Interferências com fluxos transversais de pedestres

• Redução das Emissões de Gases de Efeito Estufa

• Alterações urbanísticas na AII

• Alterações urbanísticas na AID

• Alterações dos valores imobiliários

• Aumento do grau de atratividade para usos residenciais

• Aumento do grau de atratividade para atividades econômicas

• Melhoria no padrão de acessibilidade às atividades econômicas

• Geração de empregos diretos e indiretos

• Desativação de atividades econômicas localizadas na ADA

• Descentralização da oferta de emprego

• Interferências com redes de utilidades públicas

• Aumento dos níveis de ruído próximo a equipamentos institucionais sensíveis

• Relocação de equipamentos sociais

• Alterações nos valores imobiliários

• Melhoria no padrão de acesso ao Aeroporto Internacional de São Paulo

• Alteração do padrão de acesso a equipamentos públicos durante a construção

• Incômodos à população lindeira na construção

• Interrupções de tráfego local durante a construção

• Interrupções de serviços públicos durante a construção

• Desapropriação e Relocação de Moradias

• Mobilização social durante as etapas de planejamento e implantação

• Alterações localizadas nas relações sociais entre comunidades de áreas urbanas

• Alterações na paisagem

• Aumento nas receitas fiscais durante a construção

• Impactos nas Receitas Fiscais durante a Operação

• Impactos nos níveis de investimento privado

• Aumento das demandas por infraestrutura física e social durante a construção

• Interferências com o patrimônio arqueológico e cultural

Com base nestes impactos relacionados acima, são apresentadas no EIA medidas mitigadoras. Destaco o impacto quanto à remoção de moradias para implantação do projeto, por acreditar que estas remoções podem, se não bem atendidas por programas habitacionais, serem de grande impacto em outras regiões ainda não ocupadas na Serra da Cantareira.

No EIA foram apresentadas como medidas preventivas deste impacto: na fase pré-construtiva um Programa de Comunicação Social Prévia; na Fase de construção: o Programa de Desapropriações e Indenizações, o Programa de Compensação Social e Reassentamento Involuntário, e o Programa de Comunicação Social. Sendo previsto para o Programa de Desapropriações e Indenizações um montante de R$11.000.000,00 e para o Programa de Compensação Social e Reassentamento Involuntário R$194.000.000,00.

De acordo com o EIA, esses programas visam garantir a reposição das moradias de origem, substituindo-as por unidades equivalentes ou melhores. Para atingir essa meta será necessário elaborar um Cadastro Social, além de ações conjuntas com as Prefeituras, CDHU e COHAB, garantindo a compatibilização dos cronogramas de obra e de conclusão dos trabalhos de reassentamento, com a consequente liberação da faixa de domínio.

O problema é que de acordo com a Defensoria Pública de São Paulo, que atua em alguns processos contra a DERSA movidos por moradores atingidos pela obra em outros trechos, é que não há um cronograma para provisão de unidades habitacionais, bem como, não é apresentado os locais de reassentamento desta população.

Em outros trechos da obra, isso foi um problema já que os moradores foram atendidos pelo Programa Aluguel Social para aguardar a conclusão das unidades habitacionais, porém, após trinta meses(período de atendimento do programa), as unidades habitacionais não haviam sido concluídas.

Além disso a Defensoria apontou outras situações de conflito que permeiam a implantação da obra. Uma delas é um “terrorismo” feito por técnicos da DERSA que passam pelos lugares de implantação da futura obra para fazer sondagens nos terrenos, e que começam a falar para população para venderem logo suas casas, pois serão removidos de qualquer forma. Isso, provoca um caos nas comunidades, que não conseguem se mobilizar para uma ação conjunta.

De acordo com representantes da União do Movimento de Moradia de São Paulo, que atua nessas comunidades, a partir dessa situação fica difícil organizar a população para reivindicar seus direitos em relação à moradia. Por um lado alguns moradores com medo, aceitam qualquer indenização proposta pela DERSA, enquanto outros resistem à qualquer tipo de negociação. Porém, estes que resistem se vêem obrigados a sair de suas casas, pois acabam ficando isolados após a demolição das casas em que os proprietários fizeram acordos e foram indenizados.

Além disso, um outro fator desmobilizador nas comunidades, de acordo com a União do Movimento de Moradia de São Paulo, é que não existe critério
[2] para o pagamento das indenizações, ou seja, alguns moradores ganham mais e outros menos, criando diversos conflitos dentro das comunidades.

A seguir, imagens com as remoções previstas para implantação do Trecho Norte do Rodoanel, em comunidades do distrito de Brasilândia.
[1] Análise feita a partir do estudos dos volumes III Diagnóstico Ambiental da Área de Influência Indireta (AII) – Meio Antrópico V -Caracterização da Área de Influência Direta (AID) e Área Diretamente Afetada – Meio Antrópico, VI Identificação de Impactos – Meio Antrópico, VII Avaliação de Impactos Resultantes nos Componentes do Meio Antrópico e Proposição de Medidas Preventivas, Mitigadoras ou Compensatórias e Estruturação em Programas Ambientais[2] Mesmo na prática apresentando sem critério, a avaliação das moradias para indenização segundo a DERSA é feito por uma empresa que possui critérios para essa análise.

ATERRO ITABERABA - RESUMO DOS ESTUDOS COLABORATIVOS DA ÁREA - Janeiro 2011




Estudo Colaborativo : TEMA Injustiça Ambiental
Estudo 01 - Áreas de pressão ambiental no distrito - Aterros Clandestinos e Oficiais na pré-Serra da Cantareira
TEMA: Este tema foi sugerido por moradores de áreas próximas ao Aterro Industrial Itaberaba - Essencis, e que estão preocupados com o volume atual de resíduos depositados no aterro.
ESTUDOS REALIZADOS ATÉ O MOMENTO: Observação participante, grupos focais, levantamentos fotográficos, gravações, entrevistas com moradores, pesquisadores externos e com técnicos do aterro.
GRUPO DE PESQUISADORES: Cecilia Machado FAUUSP, Mariana Rocha UNIABC, João Carlos UNIABC, Sérgio Santos –Projeto SACI, Sandra Regina – Pastoral Carcerária, Cícera Salles – Conselheira de Saúde, Renan Francisco, Letícia e Rafael – Associação Cantareira.

O uso histórico da região como descarte de resíduos “enquanto a cidade cresce”
No processo de expansão urbana sobre a Serra da Cantareira, estão presentes diversas situações de injustiça ambiental. Neste estudo será apresentado uma situação complexa e que envolve diversos interesses públicos e privados, os aterros cladestinos e oficiais na Serra. Essa situação já foi apresentada na pesquisa de mestrado, mas como uma situação de confronto que   se dava com a apropriação de antigas chácaras, localizadas na área de transição ou pré-Serra da Cantareira, por donos de aterros clandestinos de lixo e entulho. Somente no distrito de Brasilândia, na região da pré-Serra eram lançados diariamente resíduos de 300 caminhões por dia. Um confronto com a ordem institucional, com o cotidiano dos moradores e com a conservação da vegetação.

Na época os estudos apontaram que esta situação era fomentada pelo poder paralelo e combatida pelo poder público.  Inclusive foram apresentados relatos de fiscais da subprefeitura da Freguesia do Ó, sobre a tentativa da prefeitura em conter a atividade dos aterros clandestinos, em parceria com a Guarda Civil Metropolitana, a Polícia Militar e uma equipe de fiscalização da Secretaria do Meio Ambiente.

“O objetivo, segundo a subprefeitura, foi  o de paralisar imediatamente as atividades no local, inclusive, colocando barreiras de concreto para impedir o acesso de caminhões de entulho e lixo.  Entretanto, mesmo com toda essa ação conjunta, não foi possível a identificação dos responsáveis pela atividade irregular, o que impediu somente de maneira temporária essas ações sobre a Serra.” (Jornal Cantareira apud ANGILELI, 2007:158)

Pode-se dizer que os aterros clandestinos de entulho mantêm seu funcionamento, porém, pode ser percebido uma redução o número de caminhões na pré-Serra. É preciso dizer que já são mais de 20 anos de luta contra essa realidade no distrito. Essa luta envolve ameaças e perseguição, o que dificulta a articulação da comunidade para pôr fim a essa situação.

Ao mesmo tempo existe um descrédito da população, uma “desesperança” já que o poder público que antes aplicava multa aos donos de aterros clandestinos, passou também a usar alguns espaços da região como descarte de entulho. As primeiras ações do poder público foram no piscinão do Córrego Bananal.  A obra implantada em 1999, e que  restringiu-se à construção de uma barreira, para conter os resíduos ao chegar no córrego Itaguaçu, usando a área de inundação natural do córrego localizada no sítio Bananal, para conter as cheias. Além da falta de manutenção, foram fotografados também caminhões da prefeitura despejando lixo e entulho no piscinão.

Atualmente, a área que leva preocupação à população é uma aterro particular de resíduos inertes chamado Aterro  Itaberaba, implantado junto à Av. Deputado Cantídio Sampaio, uma das principais avenidas do distrito de Brasilândia.

Os impactos deste uso na região foi motivo de mobilização da população local diversas vezes. Isto porque o grande número de caminhões na avenida que dá acesso ao aterro cresceu muito nos últimos anos. A maior parte dos caminhões são de resíduos inertes da construção civil.

Como vimos anteriormente, não é a primeira vez que paisagem do distrito é modificada por este tipo de uso, a diferença agora é que os aterros não são mais clandestinos. Este uso do solo agora é oficial e monitorado pela CETESB. Chamo a atenção para esta transição de clandestino para oficial, porque esta paisagem que comporta um grande conflito entre a autoconstrução e áreas de preservação é “valorizada” como um lugar de descarte, de lixo, de entulho de construção, de resíduos hospitalares, de restos da cidade.

O aterro foi implantado em uma antiga cava resultante da extração de mineral da Pedreira Itaberaba. Esta exploração foi realizada no período de 1940 até  1985. Com a expansão urbana, ficou incompatível esse uso na região. Com a paralização das atividades, surgiram novos inconvenientes de ordem ambiental, como o acúmulo de água de chuva na cava associado ao despejo clandestino de lixo.

De acordo com o EIA (1991)  apresentado ao CONSEMA para implantação do aterro, o mesmo seria uma “alternativa aceitável , uma vez que a instalação do empreendimento irá resultar em benefícios para a região. (...) quando será iniciada a recuperação da qualidade das águas da região, através da retirada dos resíduos armazenados atualmente no local, bem como pela própria eliminação de focos de criadouros de vetores transmissores de doenças.”

O estudo de impacto ambiental, ainda conclui que o maior impacto já foi causado pela pedreira que funcionou por mais de 40 anos na região, e que a implantação do aterro mesmo em área urbana iria conduzir a recuperação desta área através de uma mudança significativa na paisagem, com o fechamento da cava. E mesmo o estudo apontando para a  possível geração de poeira, gases e odores em uma área densamente ocupada, o aterro foi implantado.

Hoje, o Aterro Industrial Itaberaba é administrado pela empresa Essencis Soluções Ambientais, de acordo com o site da empresa, este aterro tem como principal atividade o destino final de resíduos industriais inorgânicos classe IIA e classe IIB, e está em operação desde julho de 1991.
“IIA -Destina-se à disposição de resíduos industriais não-perigosos e não-inertes, e também para a disposição de resíduos domiciliares.  
IIB-Destina-se à disposição de resíduos não-perigosos, inertes, ou seja, que não sofrem alterações com a ação do tempo e do meio. Um exemplo de resíduo que se encaixa neste grupo é o entulho de construção civil.” (http://www.essencis.com.br – acessado em 2010)

O Aterro tem uma área total de 220 mil m2, e segundo a empresa responsável,  o empreendimento oferece total segurança ambiental, contando com rigoroso controle ambiental com monitoramento contínuo das águas subterrâneas. A preocupação atual de alguns moradores é o grande volume de resíduos em meio à casas autoconstruídas, já que a mudança na paisagem foi muito rápida, como pode ser visto nas imagens à seguir.
De acordo com Giovanno (técnico da empresa), entrevistado dia 20 de agosto de 2010, o aterro Itaberaba por receber resíduos inertes não necessita de compactação e não tem risco de movimentação como um aterro de lixo orgânico, não gera chorume próprio. Segundo ainda o técnico, o aterro seria desativado em 2008 e a prefeitura solicitou a prorrogação de seu funcionamento por mais 2 anos, porém, após vencer mais um contrato a prefeitura solicitou novamente a prorrogação da licença de uso devido a falta de aterros deste tipo no município. Agora o empreendimento que teria seu funcionamento encerrado em 2010, tem um processo em análise na CETESB _ Santana para funcionamento por mais 5 anos, com a ampliação da área de uso.

Solicitamos a empresa uma visita monitorada ao aterro, e após dois meses conseguimos entrar no aterro e conversar com o engenheiro responsável Cleiber Marques de Oliveira. Estavam na visita, moradores, pesquisadores e uma professora convidada do projeto Profa. Dra. Mariana de Melo Rocha especialista em aterros, para nos auxiliar na pesquisa de campo.
De acordo com o engenheiro, chegam ao aterro diariamente de 300 à 350 caminhões por dia, com a prorrogação do contrato serão cerca de 450 caminhões/dia, e mais de 90% destes caminhões são da prefeitura. Foi questionado por um dos moradores, o grande volume de caminhões,  que aumenta muito o fluxo de veículos na avenida, bem como a poeira e o risco de deslizamento destes resíduos sobre as casas autoconstruídas. E o engenheiro disse que quanto à o fluxo de caminhões eles estão fazendo uma área de estacionamento para caminhões com capacidade para 1.100 veículos minimizando os congestionamentos; para mimizar o problema da poeira eles fazem diariamente uma lavagem da avenida e dos pneus dos caminhões, e quanto ao risco de deslizamento este é inexistente segundo  o técnico, já que os taludes são avaliados por uma equipe de topógrafos mensalmente.
Nas entrevistas com moradores de áreas lindeiras ao aterro, percebemos que essas medidas não são eficazes como apresentado pelo engenheiro. A poeira é muito grande, e não vem só com os pneus sujos dos caminhões, a cada despejo de caçamba nos taludes do aterro uma grande nuvem de poeira sobe e segue em direção das casas.
Visitamos algumas casas, e percebemos o problema do excesso de poeira. Moradores relataram que as janelas e portas tem que ficar fechadas e com panos nas frestas, e mesmo assim é grande o número de pessoas com problemas respiratórios. Vera, que mora na região ao lado do aterro há mais de 20 anos reclama dos problemas de saúde de sua filha de 40 dias, decorrentes do excesso de poeira, e resume o problema dizendo: “achava que não ia melhorar o lugar onde moro, mas também não ia piorar”.
Também foram relatados pelos moradores um grande número de escorpiões nas casas e ratos. Isto porque segundo eles, não é só lançado no aterro resíduos inertes. Eles acompanham o lançamento diário de lixo hospitalar, restos de cemitério, e lixo orgânico.
Mas a injustiça ambiental atribuída a este uso, não se resume a estas questões. O “garimpo” realizado no aterro também preocupa muitos moradores. São relatados outros problemas de saúde pública, como casos de doenças de pele na população que garimpa, morte por soterramento, além das denúncias por cobrança de “pedágio”, pelos vigilantes do aterro para os moradores que fazem o garimpo. De acordo com o Eng. Cleiber hoje não é mais cobrado pedágio, mas ainda há uma conivência por parte da Empresa Essencis com o garimpo que é uma atividade ilegal. Eles autorizam a atividade do garimpo desde que seja a partir das 18:00hs. Segundo moradores, é possível ver durante à noite, várias lanternas de garimpeiros.
“Quando meu sobrinho morreu ele tinha 18 anos e fazia garimpo no aterro. Ele estava embriagado. Procuraram o corpo por três meses e pararam. Só voltaram a procurar o corpo dele quando chamamos a televisão. Nesta época cerca de 1000 pessoas trabalhavam durante a noite no aterro.”  Wilson, morador
Essa dinâmica ilegal, movimenta o mercado local além de gerar trabalho informal. Ao lado do aterro foram abertos pontos de ferro velho para comprar o material. Hoje muitas famílias vivem ainda do garimpo, chegam a ganhar R$70,00 por dia. Como é o caso de Jeferson, morador da comunidade Cidade Alta e que não vê o aterro como um problema e sim como uma fonte de trabalho. Sua casa que tem 2,5 de largura, foi construída junto ao muro do aterro em uma calçada, e possui uma passagem clandestina que dá acesso ao aterro.
Em discussão com os moradores que participam da pesquisa, concluímos que diversas as formas de relação estabelecidas pelos moradores e esse uso. Existem os moradores de favelas junto ao aterro e que não concordam com este tipo de uso junto às residências; os que moram nas mesmas favelas e que tem o aterro como fonte de renda mesmo sabendo dos riscos; e os que não questionam este uso ou mesmo o impacto dele no cotidiano dos moradores.
Deste último grupo ainda não falamos, mas para o os pesquisadores/moradores é o que mais preocupa por ser a maioria. São moradores que quando questionados sobre o aterro falam de promessas políticas feitas por candidatos, da garantia de que nesta área será construído um “conjunto habitacional”, ou mesmo uma “escola”. Não possuem um olhar crítico sobre a situação, o que enfraquece o esforço de mobilização contra o aterro (ver CD anexo com vídeo de depoimentos dos moradores).
É preciso dizer que a falta de mobilização desta população também tem outro motivo. De acordo com o Eng. Cleiber, responsável pelas atividades do aterro desde janeiro de 2010, a Empresa Essencis mantem a “cordialidade” com muitos moradores através de “contribuições” que são feitas para instituições religiosas locais e que tem história na trajetória de luta da população. Eles contribuem com materiais de construção, alimentação e higiene, e pedem em troca segundo o engenheiro, que eles divulguem para população o quanto a empresa é importante para a região, que ela não traz malefícios e sim contribui para a geração de emprego nas comunidades. Essa declaração foi um importante diagnóstico para o grupo sobre a falta de mobilização e questionamento de entidades que estão localizadas ao lado do aterro.
NOVAS ETAPAS DA PESQUISA:
Para a continuidade da pesquisa, estaremos avaliando o Processo de prorrogação do aterro disponibilizado pela CETESB-Santana.
Levantar junto às unidades de saúde, quais as principais doenças na região, e espacializar estes dados confrontando com as denúncias referentes a questões de saúde denunciadas pela população.
Intercâmbio: Visita à outras comunidades que estão localizadas junto à aterros. Entramos em contato com moradores da comunidade Espírito Santo em Santo André e Conjunto Barão de Mauá na cidade de Mauá, na qual diversas casas e prédios foram implantados sobre  antigos aterros de lixo orgânico e industrial. O objetivo é trocar experiências acerca destas problemáticas. A visita esta marcada para março de 2011.
AÇÃO
Foram sugeridas pelo grupo algumas possibilidades de ação:
Realização de um seminário sobre este problema ambiental na região.
Abaixo assinado contra o funcionamento do aterro (está em andamento) e dar entrada em uma ação pública para denunciar as irregularidades do aterro